Diagnóstico e terapia contra sepse na rede pública levam o dobro do tempo
28 de outubro de 2010 | 0h 00
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Karina Toledo - O Estado de S.Paulo
Pacientes de hospitais públicos com infecção generalizada precisam aguardar o dobro do tempo para receber diagnóstico e tratamento e têm risco de morrer 30% maior que o de pessoas internadas em instituições particulares.
A conclusão é de uma pesquisa do Instituto Latino-Americano da Sepse (Ilas) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O estudo foi realizado com 396 pacientes com sepse grave e choque séptico internados em 18 instituições - 9 públicas e 9 privadas.
"As pessoas chegavam ao hospital no mesmo estado, mas, na hora do diagnóstico, as internadas em instituições públicas apresentavam um quadro mais grave. Ou seja, não era um problema do doente e sim da atenção", diz Flávia Machado, presidente do Ilas e coordenadora do estudo. Os pacientes de instituições públicas pesquisados eram, em geral, mais jovens e tinham menos doenças associadas - ainda assim, morreram mais.
A sepse é um conjunto de manifestações graves em todo o organismo, causado por uma infecção, que pode estar localizada em um único órgão. O problema ocorre quando as toxinas liberadas pelo sistema imunológico para tentar combater o agente infeccioso passam a atacar também os órgãos vitais, causando problemas circulatórios e queda acentuada na pressão arterial.
No Brasil, a doença é a principal causa de morte nas UTIs, superando até mesmo enfarte e câncer. Segundo dados do Ilas, quase 60% dos brasileiros que adquirem sepse acabam morrendo - índice muito superior à média mundial de 30%.
"A taxa de mortalidade brasileira é maior que a média mundial. Porém, nosso gasto para tratar os pacientes - cerca de R$ 18 bilhões por ano - não é menor que o do resto do mundo", diz Fernando Cunha, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP. Para ele, a demora no atendimento é o principal problema. "Se você chega com dor no peito em um pronto-socorro, é rapidamente atendido, mas se aparece com febre e sinais de infecção, fica esperando."
O pesquisador da Fiocruz Fernando Bozza também ressalta a dificuldade que um doente enfrenta no País para ter acesso a um leito de UTI, principalmente aquele que depende do sistema público de saúde. "Além disso, há a dificuldade dos médicos, em hospitais públicos e privados, de identificar a sepse." Segundo estudo anterior do Ilas, apenas 27% dos médicos brasileiros sabem reconhecer a doença.
Rapidez. Pesquisas mundiais evidenciam que a detecção precoce é crucial para a recuperação do paciente com sepse. A cada hora que se demora para administrar o antibiótico, por exemplo, as chances de sobrevivência diminuem quase 8%. Se a demora ultrapassa seis horas, o risco de morrer se multiplica por dez.
O presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), Ederlon Rezende, explica que as intervenções nas primeiras seis horas são decisivas para determinar o curso da doença. "Se o paciente está com um órgão afetado e isso não for revertido, a tendência é de que o quadro evolua para falência múltipla de órgãos. Quando mais de seis órgãos são afetados, a chance de sobrevivência é de 20%."
Segundo a pesquisa coordenada por Flávia, os pacientes dos hospitais públicos tiveram de esperar, em média, seis horas pelo diagnóstico. E só em 24% dos casos a sepse foi identificada na primeira hora. Nos privados, o tempo de espera foi de três horas e em 39% dos casos o diagnóstico ocorreu em menos de uma hora.
Procurado pela reportagem, o Ministério da Saúde informou, por meio de nota, que iniciou em abril um projeto para reduzir a incidência e a mortalidade por sepse no País, em parceria com o Ilas, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Hospital Albert Einstein. O objetivo é capacitar profissionais para que o diagnóstico e os primeiros cuidados terapêuticos sejam feitos nas primeiras seis horas.
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101028/not_imp630904,0.php
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